Tem gente que torce. O palmeirense vigia e vibra.
Enquanto os outros comemoram por antecipação, ele aperta os olhos.
O palmeirense não acredita em clima de festa antecipada, nem em jogo ganho antes da bola rolar, nem em roteiro óbvio.
Torcer, para ele, é também sinônimo de vigilância. E a fé vem com protocolo de segurança.
Cobrar para comemorar.
O jogo mal começou e ele já tem críticas na ponta da língua. Já viu o espaço na lateral, já identificou o zagueiro com cara de que vai entregar.
E se o time for favorito, então, a desconfiança dobra.
Porque o palmeirense não se ilude com tabela, nem com manchete de jornal.
Se depender dele, é melhor o time se concentrar como se fosse o último jogo da vida.
Ele não comemora no aquecimento. Comemora quando termina.
Corneta não é raiva é prevenção.
Há quem confunda a corneta com ranço. Mas ela é amor em estado de vigília.
O palmeirense não pega leve porque já viu o fundo do poço. Não há casca sem experiência.
A corneta é defesa.
É a forma de garantir que o time não relaxe.
É exigência que não deixa o gigante dormir.
Ser favorito é um risco.
O palmeirense não gosta quando dizem que o Palmeiras é favorito.
Porque ele sabe que ser melhor nem sempre basta.
Não basta ter o melhor elenco, a melhor campanha, o melhor treinador.
O futebol ensina que a queda vem quando a soberba entra sorrindo.
E só comemora depois do apito final.
Até o Abel ouve.
Abel Ferreira venceu muitos títulos em três anos.
Fez história. Virou lenda.
Mas se errar a substituição, vai ouvir.
Se repetir o discurso errado, vai ser contestado.
Porque no Palmeiras, ninguém é blindado. Nem os imortais.
A gratidão não anula a crítica.
O palmeirense sabe agradecer, mas cobra como se o próximo jogo definisse o futuro do clube.
A imprensa é vista com desconfiança
Desde que era Palestra, o clube desconfia dos jornais.
Lê nas entrelinhas, percebe o tom das análises, reconhece até o desprezo disfarçado.
Ele não compra elogio fácil.
Não se impressiona com capa.
No Palmeiras, o que vale é o que sentiu no campo.
Ele conhece o clube. Se o time engrena, vira rolo compressor, atropela.
Se entra em crise, tudo parece desandar.
É por isso que o torcedor vive em estado de atenção.
Porque conhece o céu, e já viu o inferno.
E sabe que um nunca está tão longe do outro quanto parece.
Por isso, o palmeirense não é simplesmente chato, é experiente.
Carrega um amor intenso, inteiro e protetor.
Vigiar, para ele, é também um gesto de cuidado.
Ser palmeirense não é só torcer.
É se antecipar, desconfiar, cobrar.
É amar com lupa, com um pé atrás, sorrir sem baixar a guarda.
Se vigia, protege. Se vive cada jogo como uma chance de não deixar os piores erros se repetirem.
📄 FICHA
Série: Ser e Pertencer
Episódio: Episódio 2 – Vigiar e Torcer
Formato: Narrativo com ambientação documental
Duração estimada de leitura: 3 minutos
Texto original: Nayra Antunes
Pesquisa histórica: Fontes jornalísticas,bibliográficas, audiovisual e acervo do clube
Produção: Independente / OOINC
Publicação: Julho de 2025
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